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Para sempre seu...

     Você ainda se lembra daquela noite de inverno? Era por volta de 4 da manhã de um domingo quando seu pai te acordou suavemente. "Está na hora...", ele sussurrou, enquanto te vestia para enfrentar a fina neve que caía lá fora.

 

     Todo o bairro se reuniu, olhando pacientemente para o horizonte. Eu ainda estava a alguns minutos de distância e vi muitos desistirem e voltarem para casa quando a neve se intensificou, mas não você...

     Certa vez em meu caminho eu conheci uma rocha cuja jornada era tão longa quanto a vida do seu Sol. Ela me contou como as pessoas na Terra ficavam apavoradas ao vê-la — e isso me deixou assustado —, mas quando meu corpo começou a aquecer e minha cauda se alongou, todas as expectativas foram superadas, e o medo que eu sentia se dissipou...

Eu vi você.

 

     "Faça um pedido", disse seu pai, e você fechou os olhos, forçando as pálpebras, colocando toda sua fé naquele momento — acreditando em um poder que poucos ousariam ter.

 

     Eu te ouvi, e por anos suas palavras foram a única luz na escuridão. Fiquei feliz por ter a companhia de sua memória ao longo do caminho, mas também me senti um grande fracasso, pois os seus desejos arranhavam as paredes da minha mente sem que eu pudesse realizá-los.

 

     No fim, reclinada em sua cadeira, vejo que você conseguiu o que queria, e mesmo tendo perdido tanto e muitos que amou, não posso deixar de sorrir ao te ver cercada pela alegria de seus netos e bisnetos. Seu sorriso continua o mesmo, tão puro quanto sempre, e o brilho dos seus olhos me enche de orgulho.

     Você é realmente grata por me conhecer, não é? E eu fico muito feliz por ter te encontrado também...

 

     Durante minha viagem, contemplei um universo que ninguém jamais imaginaria. Vivenciei o nascimento e a morte de estrelas, conheci planetas errantes, fenômenos impossíveis de descrever e outros como eu.

 

     Sim, há outros que compartilham histórias semelhantes — ou assim acredito, dadas as nossas breves interações —, mas tenho pena daqueles que, como eu, não têm alguém por quem voltar.

 

     Na primeira vez que você me viu, eu era apenas uma pequena rocha flutuando em um vazio interminável de solidão, a milhões de quilômetros de distância da minha estrela-mãe. No entanto, cá estou novamente, caindo num abismo gravitacional, incerto do futuro ou se farei essa descida outra vez, mas a tempo de vislumbrar seu sorriso mais uma vez.

     Fiquei desesperado após ser ejetado do meu lar, e por anos me perguntei "Por que eu?" enquanto vagava sem rumo. Mas se toda a minha trajetória foi necessária para nos encontrarmos, enfrentaria tudo de novo sem mudar nada, desde que a jornada me leve de volta a você. Talvez em outra vida, talvez em nossas memórias... Afinal, jamais imaginei que o frio do espaço profundo seria mais suportável do que a ausência do calor do seu abraço.

Desejo-lhe bem,

Sua estrela cadente.

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©2022 por Dżejk Obleszczuk

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